E o Rock in Rio acabou nesse domingo, dia 22 de setembro.
Depois de sete dias de muitos shows, o festival termina com um saldo
muito positivo. Vou listar os principais pontos positivos e negativos do evento
em si, além dos melhores shows, surpresas e decepções.
Bora lá!
Estrutura:
Ficou muito claro para quem esteve na edição passada e na desse ano, que
a diminuição do público fez muito bem ao Rock in Rio. O tempo para entrar na
Cidade do Rock até as filas para comprar comida e bebida diminui. A circulação
dentro do espaço, mesmo que dificultado pelos grandes grupos que sentavam ou
deitavam na grama, também foi mais tranquila. Até os banheiros, que
sofreram com falta d’água e com filas, tinham um fluxo tranquilo.
Outro destaque foi o sistema de transportes para ir e voltar do festival.
O esquema de ônibus fazendo a ligação com o terminal Alvorada e de lá
distribuindo para o resto dos destinos foi acertadíssimo. A quantidade de
ônibus era muito grande e as filas andavam rápido.
O Rock in Rio pecou em alguns aspectos apenas. O som do Palco Sunset, um
dos grandes destaques desta edição, esteve ruim e baixo em vários shows,
inclusive em alguns principais, como foi o caso do Offspring. Outro problema
nos palcos era a grande quantidade de câmeras. No Palco Mundo, dois
cinegrafistas atrapalhavam a visão de uma boa parte dos espectadores que
ficavam próximos ao palco, nas laterais. Já no Sunset, fotógrafos atrapalhavam
aqueles que passaram horas nas grades esperando para ver os shows. Em um dos
casos, um dos espectadores chegou a brigar com o profissional, que subiu em um
banquinho e tapou toda a visão de quem estava atrás por cerca de três músicas.
A falta de pias para higienização das mãos, nos banheiros, também foi um
dos pontos fracos. Apenas uma era disponibilizada. No banheiro masculino, a
fila para lavar a mão era maior do que para usar os sanitários. Já no
feminino, duas pias para cada 8 cabines mais ou menos.
Shows:
Os melhores:
- Bruce Springsteen: considerado o
melhor do festival por quase todos os veículos da imprensa, o show do “Boss”,
como é chamado pelos fãs, merece todos esses elogios. A entrega de Springsteen
no palco e a banda sensacional que o acompanha fizeram a apresentação entrar
para a história do festival. Bruce chamou fãs ao palco, deixou que o público
tocasse sua guitarra e fez tudo o que podia para tornar o momento, depois de 25
anos de espera, único e inesquecível para os fãs. O repertório contou com todas
as músicas do disco “Born in the U.S.A.”. "Hungry Hearts",
"Glory Days" e, claro, "Dancing in the Dark" foram pontos
altos da apresentação, que ainda contou com um cover de “Sociedade
Alternativa”, de Raul Seixas. Springsteen deixou claro para o Rock in Rio e
para quem não o conhecia que é um dos melhores no meio. Que volte logo.
- Justin Timberlake: desde a
apresentação do N’Sync, no Rock in Rio 3, em 2001, que Timberlake não se
apresentava no Brasil. De lá para cá a boyband acabou e o cantor começou a
enfileirar hits a cada novo CD, mesmo que isso demorasse anos para acontecer.
Em Futuresex/Lovesound e agora com The 20/20 Experience, o cantor conseguiu as
melhores críticas possíveis. E seu show não poderia ser melhor. A apresentação
reuniu o que havia de melhor nos últimos trabalhos do cantor e excluiu a sombra
do N’Sync que ainda o persegue. Com uma banda sensacional e coreografias sem
muita invenção, Timberlake levou as meninas a loucura e promoveu uma grande
festa no Rock in Rio. Em um final apoteótico com "Suit & Tie",
"Mirrors" e "Sexyback", o cantor provou porque é um dos
melhores, senão o melhor, da cena Pop atual. Seu ídolo Michael Jackson ficaria
orgulhoso.
- Nickelback: A banda de Chad
Kroeger veio ao Brasil pela primeira vez e ficou assustada com a quantidade de
fãs que encontrou no Rock in Rio. E isso não é nem um pouco ruim. Com um show
na medida certa e enfileirando hits, o Nickelback colocou até os mais
ressabidos para pular com "Animals", "Something in Your
Mouth" e "Burn it to the Ground". Presentes nas rádios
brasileiras ao longo da última década com canções como "How You Remind
Me", "Photograph", "Someday" e "Too Bad", a
banda teve quase todas as músicas cantadas com um grande coro do público.
Kroeger prometeu voltar em breve. Eu, como fã da banda, espero que aconteça
logo.
- Metallica: liderada por James
Hetfield, a banda era uma das mais esperadas e mais queridas do festival. Com
um vocalista simpático e um setlist com o que há de melhor (ok, tem uma ou
outra de um dos piores CDs da banda) na discografia, não foi difícil agradar
ainda mais o público. Com um repertório muito parecido com o de 2011, o
Metallica tacou fogo na Cidade do Rock com "Master of Puppets",
"One" e "Enter Sandman". Mas a melhor parte do show, e
aquela que toda banda sonha em ter, é o encerramento com "Seek and
Destroy". O show do Metallica é tão bom que fica a dúvida de até quando
serão convidados para fechar uma noite do Rock in Rio, fica repetitivo, mas não
fica nenhum pouco ruim.
- Muse: o power trio inglês fechou o único
dia de rock do primeiro fim de semana. E não havia show melhor (e mais
barulhento) para isso. A força da guitarra de Matt Bellamy ensurdeceu os que
estavam assistindo ao show do Palco Mundo. Com a maioria do público aguardando
o show, o Muse fez uma apresentação curta, se compararmos aos outros headliners
do festival. Em 1h30 o trio tocou seus maiores sucessos e conseguiram
transformar as chatas músicas do CD 2nd Law em um showzaço. Destaque para “Time
is Running Out”, “Starlight” (com Matt andando no meio do público), Madness e Knight of
Cydonia, com introdução de Ennio Morrione.
- Iron Maiden: a banda inglesa
encerrou o Rock in Rio da forma perfeita. É impressionante como Iron Maiden é
muito melhor ao vivo do que em estúdio. Bruce Dickinson não para quieto um
minuto e o resto da banda atrai os olhares com suas guitarras e baixo nervosos.
O palco do Iron Maiden é digno de um carnavalesco. Imagens paradas e
articuladas do personagem símbolo Eddie aparecem em todos os momentos do show.
E uma delas, vestido de confederado, tocou bateria com Nicko McBrian. O show é
um espetáculo e o grupo se aproveita dos hits (e as mesmas canções de todo
show) para empolgar cada vez mais a plateia. Desfilaram no carnaval do Iron Maiden “Aces High”,
“Fear of the Dark”, “The Number of the Beast”, “The Trooper”, entre outras. Um show que merece ser visto e revisto
sempre.
Surpresas:
- Vintage Trouble: uma das primeiras
atrações do Rock in Rio e tocando no Palco Sunset, a banda californiana
apresentou um blues rock de primeiríssima qualidade. Já tinha ouvido algumas
músicas deles, mas a força do vocalista Ty Taylor impressionou. O ritmo foi
interrompido com a participação da cantora Jesuton, mas nada que tirasse o
brilho da apresentação ou que atrapalhasse o final sensacional com “Run Like
River” e “Strike”. WOW!
- The Offspring: que a galera da
minha geração, 25 anos, tenha ouvido muito Offspring, não é surpresa para
ninguém. Agora, fazer um showzaço, muitos anos depois e ainda driblar problemas
de som, aí sim foi surpresa. O show do The Offspring entrou para a galeria
“Esse deveria estar no palco mundo” em 2013. Em uma hora de show, a banda tocou
18 músicas, quase sem intervalo. Sucessos como “I Want You Bad” e “Pretty Fly
(For a White Guy)” foram uma das mais entoadas pela plateia. The Offspring pode
não ter a repercussão de 10 anos atrás, mas ainda tem muito fã doido para
entrar numa rodinha ao som desse punk-rock.
- Sepultura + Les Tambours Du Bronx /
Sepultura e Zé Ramalho: o Sepultura é a maior banda de rock brasileira e
também a com maior sucesso fora do país. Depois do sucesso do show de 2011, ainda
no Palco Sunset, Andreas Kisser, Derrick Green e Cia foram promovidos ao Palco
Mundo, para abrir a primeira noite de Metal do Rock in Rio. E que sonzaço
realiza a mistura do canto gutural de Green com a percussão dos franceses
Tambours Du Bronx. O final apoteótico com “Roots Bloody Roots” fez os
roqueiros da plateia delirarem. Entretanto, a jornada do Sepultura não havia
terminado. No último dia, voltaram ao Palco Sunset e fizeram uma parceria
sensacional com Zé Ramalho. “Admirável Gado Novo” foi cantado por milhares de
pessoas. O cantor e a banda, claro, ficaram admirados com o carinho do público.

- John Mayer: eu admito,
realmente tinha implicância com John Mayer. Entretanto, depois que ouvi o seu
último CD, Paradise Valley, passei a dar mais atenção para o que eu considerava
“rock de menina”. John Mayer é um excelente músico e tem o seu público. Além
disso, seu show foi carismático e com atenção aos milhares de fãs
(principalmente as meninas) que estavam ali apenas para vê-lo. John trocou
Vultures por Stop This Train, graças ao pedido do público. Abriu o show com “No
Such Thing”, música que tem deixado de fora do seu repertório, mas que é
adorada por muitos. Emendou sucessos como “Your Body is a Wonderland”, “Daughters”, “Slow
Dancing in a Burning Room”, “Waiting on the World to Change” e as novas “Dear
Marie” e “Wildfire”. Todas foram cantadas
a plenos pulmões pelo público.
- Rob Zombie: o cantor/diretor/produtor surpreendeu aos que
ainda se reestabeleciam do show do Sepultura + Tambours Du Bronx, no Palco
Mundo, com uma apresentação forte e teatralizada. O vocalista do White Zombie
não deixou a o ritmo cair em momento nenhum da apresentação. Seus trejeitos e caras
foram um show por si só. Zombie fez a alegria do público com “Meet the
Creeper”, “Superbeast” e “Thunder Kiss ‘65”. Fique na música, Rob. Você é muito
melhor do que no cinema.
- George Benson + Ivan Lins: um dos shows que
mais queria assistir no Rock in Rio 2013 era esse. Muito mais por ser fã do
George Benson do que por outras coisas. E não me decepcionei. Pelo contrário, a
entrada do Ivan Lins no show, só acrescentou ao repertório e à alegria de
George Benson. O guitarrista americano começou emendando sucessos como “Love x
Love”, “Kisses in the Moonlight” e “Give Me the Night”. Com a entrada de Ivan
Lins, o show virou uma festa entre os dois músicos. Cheio de babação de ovo,
Benson disse que Ivan era seu “compositor preferido no mundo”. O show terminou
com uma grande apresentação dos dois com “On Broadway”. Sensacional.
Decepções:
- Bon Jovi: difícil dizer que
saí decepcionado do show do Bon Jovi. Mas foi o que aconteceu. Isso não quer
dizer que o show foi ruim. Não mesmo. Mas algo parecia estranho naquela noite.
A banda estava retalhada devido aos problemas recentes (Richie Sambora e as
drogas e Tico Torres com apendicite e problema na vesícula) e Jon parecia estar
sentindo aquilo. A escolha do repertório também foi equivocada. Muitos dos
sucessos que os fãs queriam ouvir não foram tocados, e as músicas do novo (e
chatíssimo) CD da banda sobraram. Para quem nunca havia assistido o Bon Jovi, a
experiência foi excelente. Para quem os viu em sua última vinda ao Brasil
(2010) fica a certeza de que aquele bom show, poderia ter sido showzaço.
- Beyoncé: assim como o show
do Bon Jovi, a primeira atração principal do Rock in Rio fez um bom show. Mas
depois de tudo o que foi dito sobre a apresentação, as danças e tudo mais, o
show foi um “É... foi legal”. As incessantes trocas de roupa quebravam o ritmo
de um show composto só por hits. Não era para deixar a bola cair com tantos
sucessos, mas a cada três músicas, lá vinha um vídeo (chaaaaaato) e Beyoncé
aparecia com uma roupa nova. O show teve seu público e ninguém vai dizer que
não gostou. Mas para quem é “de fora” poderia se esperar mais.
- Capital Inicial: vou colocar o
Capital nessa lista porque, por mais que o show da banda de Brasília seja
sempre com os mesmos hits, isso não atrapalha. Quem vai ao show quer escutar
“Primeiros Erros” e tantas outras que Dinho Ouro Preto deixou de fora para
tocar suas músicas novas e chatas. Entre muitos “Cara” e “do caralho”, Dinho
não conseguiu nem fazer um protesto decente. Aquele velho-jovem soou como um
velho-velho pra cacete. Era tão simples apenas emular o show de 2011.
No mais:
- Thirty Secondos to Mars foi um bom show para quem é fã e um espetáculo interessante para quem
não conhecia. Jared Leto é um puta showman.
- David Ghetta foi ok. Nada mais.
- Florence and The Machine foi um bom show. Uma bom descanso entre a correria de Jared Leto e a barulheira do Muse.
Aquele momento para os não-fãs irem ao banheiro e comer alguma coisa.
- Alicia Keys fez um bom show, porém, assim como Florence, mais uma pausa entre a
animada Jessie J e Justin Timberlake.
- As banda brasileiras que abriram os dias foram ótimas, tirando o
Capital Inicial. Jota Quest, Skank, Frejat e Ivete Sangalo enfileiraram seus sucessos e outros de artistas brasileiros e foram bons
“esquenta” para o que estava por vir. Até o Kiara Rocks, talvez a mais
desconhecida de todas as bandas do Palco Mundo, fez um bom show. Agradou aos
metaleiros que esperavam Slayer e Iron Maiden.
- Matchbox Twenty fez um show esforçado para agradar ao público. A boa banda (com um
guitarrista que é a cara do Ron Perlman, o Hellboy), alguns sucessos e um cover
dos Rolling Stones deixaram o show mais animado.
- Phillip Phillips foi ajudado pela popularidade de John Mayer, a quem costuma abrir os
shows, e conseguiu que suas músicas fossem cantadas pelas fãs do namorado da
Katy Perry.
QUE VENHA O ROCK IN RIO 2015!